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Homenageada: Maristela Hillesheim


O céu de Estela

Era uma manhã de outono. Eu nunca gostei de outono. Gosto da primavera, do verão,
até gosto um pouquinho do inverno. Mas o outono nunca me foi simpático.

Aquele foi o amanhecer mais triste de todos os outonos que vivi. Quando uma mensagem
no telefone dizia: “Entre em contato” eu sabia que você tinha ido embora.

Com a alma em frangalhos entrei no vôo que iniciava uma longa viagem, como sempre
2000 km de distância nos separavam.

Foi um vôo silencioso, ouvi somente a voz do Comandante que me lembrava que
inexplicavelmente há menos de seis meses me levava tão feliz ao teu encontro.

Não ouvi vozes, gritinhos de crianças, turbulências, parece que todos estavam solidários
na minha dor. Vez ou outra ouvia o choro baixinho da minha mãe, um solucinho disfarçado,
uma dor quase que maternal.

Pela primeira vez soube o que era contemplar o infinito. Olhei o céu tão azul da minha terra
e devido ao horário ele estava sem estrelas, mas já estava com você. Pela primeira vez
contemplei o Céu de Estela.

Sei que a velocidade atingida por uma aeronave é muito rápida. Mas, tenho certeza que a velocidade dos meus pensamentos foram infinitamente mais rápidos.

É incrível como nos momentos de despedida nossa memória consegue alcançar as lembranças mais remotas, mais infantis.

Lembrei dos Natais na casa da Vó, das nossas brincadeiras de Susi, do Suspiro colorido
da vendinha da Dona Caetana, depois dos nossos planos, os seus sonhos com a medicina,
nossos namorados complicados, sua enfermidade, sua esperança.

Mas a imagem mais marcante foi você com mais ou menos 08 anos. Lembro que você
gostou de um vestido meu. E a minha mãe fez um pra você. Era branco de bolinhas
vermelhas.Você ficou eufórica e não tirava mais o vestidinho.

Foi me levar na Rodoviária com ele e em meio a dor de tantas despedidas que tivemos
me deu um sorriso tão lindo com a cabecinha meio inclinada e ficava me acenando.
Nunca imaginei que aquela seria a lembrança mais marcante.

Fico pensando onde estará o vestidinho de bolinhas?
Onde estará a nossa Susi?
O que fizemos com nossos sonhos?
Será que nossos namorados se tornaram menos complicados?
Será que nós éramos as complicadas, nesse nosso jeito “Hillesheim de ser” ?
E os filhos que tanto sonhamos? Não vieram pra você, será que eu os terei?
Queria te ver vestida de noiva, queria te ver colocando bolas na árvore de natal,
queria ter ajudado a escolher o nome dos teus filhos, talvez batizar algum alemãozinho.

Mas, estou indo me despedir para sempre e esse momento nunca imaginei presenciar.
Ainda bem que deu tempo de dizer que te amei muito, que você sempre estará viva
nas minhas doces lembranças.

Deu tempo de te presentear com meu sorriso, minha companhia, minha alegria.
E esse presente não veio com papel de presente, laço de fita, papel laminado.
Veio repleto de muita fé, esperança e a certeza de que Deus faria o melhor por você.

Você sempre brincava que eu morava no Centro do Poder
e mandava um beijinho pro Presidente.
Agora quem está com o Todo Poderoso é você.
Tenho certeza que está ao seu lado, e você como sempre, falando pelos cotovelos,
deixando o “coitado” até tonto.

Então agora me faz um favor, manda um beijinho pra ele.
E se antes eu contemplava o Céu cheio de estrelas, hoje eu contemplo o Céu da Estela.
E ainda sinto muita saudade.

(Maristela Hillesheim faleceu aos 38 anos em Curitiba em 18/06/2005
vitima de um câncer no cérebro está sepultada em Taió –SC)

Texto: Kelly Hillesheim
Cidade: Goiânia - GO
Música: Noturno 9 de Chopin
Formatação: Glacy Weber Ruiz

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Glacy Weber Ruiz

E-mail:
weber.ruiz@gmail.com
familia.hillesheim@gmail.com


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